Leonardo da Vinci, com sua Mona Lisa, que me perdoe.
Entre o sorriso falsiê da Gioconda e o "Beijo" de Gustav Klimt, fico com a obra do austríaco.
Klimt não foi um gênio como Da Vinci, algo impossível, diga-se.
O beijo do quadro pintado em 1908 remete a inúmeras teorias, assim como o simbólico sorriso blasé da Mona Lisa.
Eu, depois de ouvir a história de um famoso cineasta italiano sobre a cena de um de seus filmes, sempre fico com um pé atrás acerca de teorias mirabolantes...
Em uma passagem da película, uma mulher conversa com seu namorado.
A jovem está em clara crise existencial.
Não sabe se aquele é o "homem da sua vida" ou se outro, que um dia a amou sinceramente, mas lhe disse palavras duras, não deveria ser o "dono" do seu coração.
A conversa acontece em uma paisagem dolorida de linda (sim, a beleza machuca), que se não fosse na Europa eu diria ter sido filmada no Pampa Gaúcho, na fronteira do Rio Grande com o Uruguai.
Em determinado momento um cavalo branco (ou será uma égua?), sem cela, passa ao fundo, preenchendo a tela como um arco-íris que derrama ternura em uma nesga do céu, ao findar de uma tormenta.
Surgiram teorias sobre o significado do animal branco que apareceu inesperadamente, correndo livre pelo verde e impecavelmente plano campo.
Indicaria que a mulher deveria se libertar daquela relação de interesses mútuos?
Ou que a liberdade nunca existe quando se está apaixonado?
A obra completa, o filme em sua totalidade, quase ficou em segundo plano por conta da cena do galope do animal.
Faz até sentido.
Às vezes uma vida inteira vale menos que um flash.
Por mais amargo que possa ser o recordar do instante mágico da Lua Cheia iluminando o corpo nu de uma mulher jovem, por exemplo.
No fim das contas, depois de muito tempo, o cineasta resolveu elucidar o enigma.
Pareceu divertir-se com tantas elocubrações...
"O cavalo (ou égua) parecia perdido (a) naquele lugar, não programei sua aparição. Eu pensei em cortar a cena, mas meu assistente alertou para o fato de que não tínhamos mais nenhum rolo de filme", disse o cineasta.
Lembrei dessa história porque existem muitas teorias para o "Beijo", quadro pintado por Gustav Klimt.
O homem (será mesmo que é um homem?) está em posição dominante e a mulher, consequentemente, de submissão.
Ela está ajoelhada e o beijo é uníssono, dele nela. no lado direito de seu rosto.
Ela está de olhos fechados.
Estará viva?
O rosto do "beijador" não aparece.
Será um homem bem mais velho?
Será o caso de um "Complexo de Electra"?
O preâmbulo, longo mas necessário, serve para que eu fale do beijo que a Ferrari parece disposta a dar em Lewis Hamilton.
A equipe de Maranello fez o primeiro flerte.
O piloto inglês, do alto de seus seis títulos na Fórmula 1, parece ter desdenhado.
Não se mostra disposto a deixar sua zona de conforto...
Está nas nuvens, acastelado na Mercedes.
Não há simetria quando apenas um beija, como no quadro de Klimt.
Hoje, se eu fosse apostar um dólar furado, diria que Hamilton nunca será piloto da Ferrari.
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