Em primeira mão, esclareço: não sou um ferrarista.
Assim, sem parcialidade, fica mais fácil, jornalisticamente falando, tratar da grandeza do time da Fórmua 1.
Torcer para a Ferrari é moleza, é estar ao lado da maioria.
A Ferrari é mais que uma equipe de F1. É uma fábrica dos carros "de passeio" mais cobiçados e a marca mais valiosa do mundo, segundo a Brand Finance Global em 2019.
Traduzindo o parágrafo acima, sem querer bancar o empertigado — e achar que o leitor não é capaz de entender —, apenas esclareço.
Em recente entrevista, não lembro exatamente onde, afinal são tantas lives, a maioria delas absolutamente infundadas e desnecessárias, Rubens Barrichello fez algumas considerações acerca do time de Maranello. Foi uma boa entrevista, diga-se.
Entre tantas coisas, Rubens foi assertivo quando falou da dimensão em ser galgado ao posto de piloto do time escarlate.
Disse que não pegava mais filas e não pagava as contas em restaurantes durante o período em que estampou o cavallino rampante em seu macacão.
Fora (agora é por minha conta a avaliação), o prestígio profissional e a possibilidade por brigar por troféus em uma categoria do automobilismo que só não é mais difícil de ser alcançada que a de astronauta em missão à Lua.
Dito isso, arremato: é muito mais importante para o piloto estar na Ferrari do que a Ferrari ter qualquer piloto.
Entenderam?
Quando quero atazanar algum amigo santista, que me provoca dizendo que Pelé não jogou no Corinthians, respondo sem titubear:
Azar do Pelé, oras... Teria sido bem maior se tivesse jogado pelo meu Timão!
O Comendador Enzo Ferrari (1898 - 1988) tinha uma filosofia cristalina sobre sua equipe e os pilotos que deveriam servi-la.
Para ele, um piloto mediano ganhando com a Ferrari seria melhor do que um fora de série conseguindo o mesmo intento, pois provaria que o carro (não o piloto) era o protagonista.
A máquina sobrepujando o homem.
A cartilha de Enzo Ferrari foi muitas vezes esquecida após sua morte, sempre que o time correu atrás de pilotos acima da média, casos de Michael Schumacher, Fernando Alonso e Sebastian Vettel.
Por isso, vendo a ascensão de Ayrton Senna, nunca moveu uma palha para ver o brasileiro em seu carro.
Senna tirando o jejum ferrarista que durava desde 1979 seria o responsável pelo sucesso.
Agora, com um piloto que é apenas uma promessa (Charles Leclerc) e um apenas mediano (Carlos Sainz Jr.), voltar a ser campeã tornará a Ferrari ainda mais forte, para quebrar um novo jejum, este que dura desde 2007, quando o também mediano Kimi Raikkönen arrebatou o campeonato.
Sim, Leclerc é apenas uma promessa, por mais brilhantes que tenham sido algumas de suas atuações pela Alfa Romeo-Sauber em 2018 e pela própria Ferrari no ano passado.
Carlos Sainz Jr., por sua vez, está na F1 desde 2015 e nunca causou suspiros.
Tomou uma lavada de Max Verstappen em seu ano de estreia na Toro Rosso e conquistou um único pódio, em terceiro lugar, graças à punição imposta a Lewis Hamilton no GP do Brasil do ano passado.
A Ferrari faz uma aposta arriscadíssima com uma dupla jovem demais (a segunda mais pueril de sua história, perdedo apenas para o dueto Chris Amon/Jacky Ickx em 1968), mas acerta em não ter nenhum mega campeão em seus cockpits, pelo menos como era a ótica de seu chefe maior.
Se for Sainz Jr. e não Leclerc quem recolocará a Ferrari novamente no topo, algo que duvido, o pensamento do Comendador estará mais vivo do que nunca.
Como teria sido em 1999, se fosse o também mediano Eddie Irvine o campeão daquela temporada, após o acidente de Schumacher em Silverstone, o que alijou o alemão de seis provas daquele campeonato.
De qualquer forma, se puder saber o que está acontecendo com sua Scuderia, é bem possível que o Comendador abra um largo sorriso.
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