Com apenas três dias de testes antes da abertura do Mundial de Fórmula 1, equipes e pilotos precisarão aproveitar cada minuto de pista no Bahrein, afim de deixarem seus carros no ponto.
No melhor ponto possível, claro, porque três dias (entre 12 e 14 de março) é missão inglória para engenheiros e projetistas, por mais que se desenvolvam softwares e os simuladores sejam avançadinhos.
Nada como colocar o carro na pista, com os pneus sendo destruídos pelo asfalto e a gasolina queimando em centenas de voltas.
Até o começo dos anos 2000 era muito comum algumas equipes de Fórmula 1 pregarem peças nos incautos.
Mentiam à beça quando os testes da pré-temporada eram praticamente ilimitados.
Nem todas as equipes mentiam.
A prática era mais comum às pequenas e médias.
Elas tentavam ludibriar com um único propósito: dinheiro.
Outro dia li uma frase do ótimo Fabricio Carpinejar sobre o tema. Disse o gaúcho colorado:
"Ninguém encontra paz mentindo.
Viverá sempre com receio de ser descoberto".
E, não custa lembrar, de velho um ditado popular: "Mentira tem pernas curtas".
Isso aconteceu algumas vezes na Fórmula 1.
Uma das histórias mais famosinhas foi com a Arrows, em 2000.
Equipe mediana, fundada em 1978, sem nenhuma vitória na categoria, até viveu lampejo em 1997, quando Damon Hill quase abiscoitou o GP da Hungria.
Mas, três anos antes, na pré-temporada de 2000, em Barcelona, o quadro não era dos mais auspiciosos para o time então comandado pelo polêmico (estou suavizando as tintas) Tom Walkinshaw.
O modelo A21, equipado com o motor Renault (batizado de Supertec), foi para o traçado catalão na pré-temporada daquele ano totalmente pintado de preto, sem patrocínios.
Assim, era fundamental causar uma boa impressão para arrebatar investidores.
Tão logo o traçado foi liberado para os treinos, advinhem só quem encabeçou a tabela de tempos?
A Arrows...
Deixou gigantes das estirpes de McLaren e Ferrari comendo poeira...
Os pilotos, o holandês Jos Verstappen (pai do Max), e o espanhol Pedro de La Rosa, nunca concederam tantas entrevistas...
Com pneus macios na maior parte do tempo, um "cheirinho" de gasolina no tanque e, proavelmente abaixo do peso regulamentar, a Arrows provocou o impacto necessário para que, em pouco tempo, fechasse contrato com a Orange, gigante das telecomunicações da França.
E, de quebra, mais algumas outras empresas que complementaram o orçamento para a temporada, entre elas a Repsol e a Eurobet.
Bancaram a mentira por muitos dias, pois não havia limite para testes privados e os coletivos aconteciam em abundância.
O estrago, no bom sentido (para o time inglês), estava feito.
O carro ficou lindo, laranja e preto, mas o que se viu ao longo do ano foi o que poderia se supor; de que a pré-temporada foi uma pataquada das grandes.
Na primeira corrida da temporada, o GP da Austrália, De La Rosa largou em 12º e Jos Verstappen em 13º. Nenhum deles terminou a corrida, ambos com problemas de suspensão.
Ao término do ano, o sétimo lugar entre as 15 equipes.
Nenhum pódio... O melhor resultado, um quarto lugar de Jos Verstappen no GP da Itália, em Monza.
É curiosa a desculpa da F1 atual em preconizar que limita os testes para redução de custos...
Não poder treinar (no caso da F1), é como você ter um time de futebol e limitar seus coletivos durante a semana, antes do jogo...
Meu querido amigo Claudio Carsughi é autor desta comparação perfeita.
Fato é que o diagnóstico na exígua pré-temporada no circuito barenita de Sakhir tem tudo para ser o mais fiel possível.
De verdades verdadeiras.
O caso da McLaren é o mais cristalino de todos.
Foi a única equipe que trocou de motores, deixando os Renault e passando aos Mercedes.
Precisará ser realista em cada momento que deixar o pit-lane e ganhar o asfalto para completar voltas.
Se o casamento motor-chassi for um conto de fadas, a exemplo do que aconteceu com a Brawn-Mercedes de Button e Barrichello em 2009, poderá brigar pelo título, o que será sensacional.
Do contrário, passará o ano buscando melhoras sem poder treinar...
Será possível, ao término dos três dias, sem "achismos", cravar, com pequena margem de erro, aquilo que vai acontecer no ano não somente para a McLaren, mas para as outras nove equipes do grid.
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